sexta-feira, novembro 21, 2008

Política de Comunicação, ação comunicativa e emancipação social


Pensar a Comunicação, no âmbito do Governo do Estado do Pará, conforma um desafio associado à superação de um paradigma herdado: pensá-la não como um instrumental utilitário na relação governo/sociedade, mas sim como um processo social autônomo, associado à própria organização social – ou seja, à relação de contigüidade dos indivíduos entre si e com seu espaço, com o uso que fazem de seu território e com o processo de maturação de suas escolhas.


Esse desafio resultaria em superar uma percepção mecanicista e utilitarista da mídia e construir um projeto de Comunicação pautado pelo compromisso de democratização do espaço público. Pelo compromisso de constituição de uma esfera pública inclusiva, participativa e politizada.


Nesse sentido, esse desafio associa a política de Comunicação, diretamente, aos macro-objetivos do governo: inovação para o desenvolvimento, gestão democrática e participativa e qualidade de vida para todos e todas. Também a associa a outro macro-objetivo tangencial, presente nos três referidos e em todos os atos de fala da Governadora: a integração regional do estado.


Esses objetivos não precisam ser, meramente, divulgados, mas sim pactuados com a sociedade, o que pressupõe debate público, enfrentamento de posições e construção coletiva. E para isso não há como não pensar a Comunicação como meio para uma gestão participativa. Tampouco como deixar de vê-la como projeto de inovação tecnológica.


Considerando ainda que ela pode concatenar projetos de integração regional, construindo espaços público para o debate social localizado e, assim, gerando qualidade de vida para populações sem acesso à mídia – ou a boa mídia -, pode-se pensá-la como uma área estratégica para o projeto político iniciado.


Mas isso se considerar que a Comunicação não é, simplesmente, um projeto de informação, publicidade, relações públicas ou marketing político. Essa parte técnica da Comunicação, digamos assim, é apenas um acessório para coisas que estão bem além da maneira como o senso comum a representa. E é nesse sentido que propomos iniciar um debate a respeito de como a mídia – pensada não apenas na sua dimensão instrumental ou empresarial, mas, também, como processos e modelos comunitários e sociais de comunicação – pode vir a ser um instrumento fundamental para a concretização dos objetivos de governo acima referidos e, mais que isso, para a instauração de processos sociais de politização, valorização e capacitação do homem paraense.


A Comunicação que pensamos não prefere falar em jornalismo, publicidade ou marketing em detrimento de termos como esfera pública, mídia comunitária, inclusão digital e democracia. E esse debate, por outro lado, pretende levantar questões de fundo estratégico que se podem evidenciar, por exemplo, por meio de axiomas como: deve a mídia, ou melhor, esta mídia, pautar as ações do governo em detrimento do contrário? - ou seja, do debate público a respeito dos projetos e ações do governo?


Não seria o caso de lembrar que, há alguns anos, o Partido dos Trabalhadores adotava um modelo de pactuação com a sociedade centrado na defesa do diálogo social e que esse modelo, mesmo sem ser abandonado, passou a conviver e, talvez, a ser superado por um novo modelo de pactuação social centrado, este, na mídia e no marketing?


Sem desejar sugerir que a mídia, essa mídia, não tenha importância, o que pretendemos evidenciar é o fato de que a mídia não precisa ser pensada, exclusivamente, como uma estratégia de sedução ou de controle.


A mídia que propomos deseja reativar, na medida do possível e sem ilusões maiores, a esfera pública. Deseja ampliar a participação social no debate sobre o que a cerca. Deseja dar voz ativa ao homem, ao maior número possível de homens e, assim, promover sua auto-estima – a verdadeira auto-estima, que decorre de saber-se agente político de seu destino, e não aquela que, na gestão anterior, foi tão apregoada e que concorria para a passividade, tornando o sujeito um espectador passivo de um discurso hipnótico sobre sua identidade.


O que desejamos é uma mídia republicana, que contribua para tornar republicana a sociedade.


Nesse sentido, gostaríamos de atualizar a reflexão sobre o espaço público, sugerindo meios para a concretização de uma experiência de ação comunicativa situada na vivência social, na vida cotidiana e localizada num espaço preciso de ação e de interlocução de atores sociais que se instituem, midiaticamente, a partir de sua concretude histórica, num processo de circularidade cultural que os torna completos naquilo que são, que vêem, que pretendem. Na história que contam de si.


Antecipando um tema que não será aqui esgotado, o que queremos é uma mídia que não seja, digamos assim, metafísica. Que não produza ficções de generalidade, de identidade ou de substância. Que não pense os “receptores” como sujeitos passivos, meramente. Uma Comunicação pensada como ação, como práxis. O que desejamos é pensar numa Comunicação inclusiva e republicana.


Autor: Prof. Fábio Fonseca de Castro

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