segunda-feira, abril 09, 2007

Marcos Coimbra cai de pau nessa historia de marqueteiros mandarem em politica!!

Democratas (!?!)
Texto do sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, publicado no Correio Brasiliense em 08/04.

Tem coisas na vida e na política das quais sinceramente, deveriamos todos ser poupados. Não são, sempre, importantes, mas nem por isso deixam de ser aborrecidas. Às vezes, até irritantes. A mudança de nome do PFL para “Democratas” é uma dessas coisas. O que se pode dizer sobre algo tão estranho?

Fomos informados pela imprensa que a idéia nasceu de uma pesquisa de opinião pública sobre a imagem do partido, que concluiu que ela estava “desgastada”, com “problemas”. Daí a proposta de mudança de nome. Simples, como se estivessem reunidos os executivos de uma empresa, que, quando ficam sabendo que as vendas andam baixas, aceitam a sugestão do gerente de comunicação e mudam o nome do produto.

Em minha profissão, ouvi muito (é verdade que menos de uns anos para cá) o protesto de políticos quando alguém (marqueteiro, assessor etc.) queria tratá-los assim, como “produto”. Com razão, insistiam no argumento que política é “outra coisa”, pois diz diretamente respeito à vida das pessoas e à sua identidade de cidadãos. “Coisificar” candidatos, governantes, parlamentares, idéias, era visto como fuga ao debate e ao enfrentamento, deixando-os no mesmo lugar das margarinas e das sandálias de dedo.
Os tempos passaram e os políticos foram ficando mais dóceis perante os ditames da sociedade de consumo. Mas nunca tinha visto algo como o nascimento do “Democratas”.

Usando imagem freqüentemente invocada nas discussões sobre os partidos, quando falamos que políticos costumam trocar de partido “como quem troca de camisa”, temos agora o caso de um partido que troca de nome com o mesmo espírito leve. Na mudança, muitas coisas vão pelo ralo: se a palavra “liberal” era tão importante quanto ouvimos dizer, para onde foi?

Depois de mais de 20 anos procurando divulgar propostas, argumentos e experiências de liberalismo, de dentro e fora do Brasil, assumindo com clareza que era esse o lugar que pretendiam ocupar no espectro partidário, por que suas lideranças escolhem a diluição de um nome que não quer dizer nada, porque quer dizer tudo? E quem acreditava nisso, como fica? Afinal, em pesquisas de opinião feitas durante o ano passado, o PFL sempre teve entre 2 e 3% de preferências, o que pode não ser muito, mas sugere que algo em torno de 3 milhões de eleitores terão que se identificar com o “Democratas” ou, então, procurar outro rumo.

É claro que já tivemos, em nossa história de proliferação partidária, muitas mudanças de nome. Às vezes por imposição, como no ciclo militar, às vezes para designar algo que surge de outros, por fusão, incorporação, divisão. Sempre para dar um nome novo a uma coisa nova. Mudar de nome, sem mudar nada, é a primeira vez.
Não me ocorre um só caso, em nossa evolução política, de partido designado por uma palavra comum. Todos se dizem “partidos”, no nome e na sigla, exatamente para mostrar o que são, ostentando o P maiúsculo, de maneira a que ninguém se confunda. Mais grave, nenhum havia procurado se apropriar de uma palavra que pertence a todo mundo. Democratas somos todos e não apenas os filiados da antiga Frente Liberal.

Será que alguém teve a brilhante sacada de que, com o nome novo, quando o repórter, o analista, tivesse que falar a respeito de um de seus integrantes seria obrigado a dizer “o democrata Fulano de Tal pensa, propõe....”? Depois de anos de críticas, muita gente passaria a ser, por um passe de mágica, “o democrata Sicrano”.
Como é pouco provável que qualquer outro partido tenha tanta criatividade, estamos poupados de lidar com o “honestos”, o “competentes”, o “sérios” e coisas do gênero. Já pensou o ridículo que seria o noticiário político?

Francamente.

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